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Isabelly Veríssimo: De Cubatão Para Estudar Neurociência Nos EUA

Isabelly Veríssimo: De Cubatão para estudar neurociência nos EUA

Isabelly Veríssimo é uma das mais novas patrocinadas pela ação de incentivo à educação que nós realizamos. Hoje graças a toda a sua dedicação e ao apoio da DMCard ela cursa a faculdade de neurociência na Nova Southeastern University, na Flórida, Estados Unidos.

Conheça um pouco sobre sua trajetória e como tudo aconteceu, nesse texto escrito pela mais nova colunista do Blog DMCard:

Hoje, eu conheci a primeira brasileira na Nova Southeastern University. Foi um estalo para entender que isso tudo é real. Se eu fosse pensar um ano e meio atrás, nunca imaginaria estar morando na Flórida com uma americana e estudando numa escola de elite-estadunidense. Isso é uma loucura, né?

Acho que tudo começou literalmente no começo da minha vida. Eu nasci com um problema cardíaco grave e quando tinha 11 meses, passei por uma cirurgia em que meus pais tiveram que vender tudo em casa para pagar. Sabe quando só tem um colchão e água na geladeira? Assim ficamos. Minha mãe sempre conta essa história falando que só passamos por isso porque muita gente nos ajudou.

Para falar a verdade, eu não posso dizer que ser médica é algo que sempre quis na vida. Passei o ensino fundamental querendo ser estilista e ensino médio quase todo querendo ser engenheira. Quando eu estava escrevendo um tipo de carta pessoal sobre o que me motiva ir às universidades no exterior, eu lembrei do meu cardiologista e foi o momento em que eu descobri o que me inspira e  que tudo que faço hoje vem da minha vontade de cuidar. Cuidar do próximo, dar um pouco do que tenho, nem que só tenha conhecimento e amor para oferecer.

Como eu disse, foi nos cinco segundos do segundo tempo, que vi que a área da saúde era o que fazia meus olhos brilharem. No primeiro momento, só pensei: trabalho com que amo e insisto muito, ou fico com a opção de engenharia? Nesse ano, eu estava acabando um estágio de informática, eu era bolsista num curso pré-vestibular para medicina, estava fazendo TCC e decidi aplicar para universidade fora. Se eu dormia? Alguns dias. A jornada de tentar estudar fora foi muito solitária, escondi de muitos até ser aprovada. Quem sabia, não acreditava de verdade que eu ia passar fora e na verdade, nem eu acreditava, mas aqui estou.

Ademais, passei minha infância toda no U.M.E João Ramalho, uma escola municipal do meu bairro. Desde cedo, meus pais falaram que tinha que estudar muito para ser alguém na vida. Com 14 anos, fui aprovada no IFSP de Cubatão, o qual foi um divisor de águas do que, eu creio como educação de qualidade. Eu sempre digo que cheguei “crua” lá. A instituição me moldou de um jeito que nenhum lugar vai me moldar. Eu tive contato com pessoas de todas as raças, classes sociais, sexualidades, gêneros e opiniões. O Instituto Federal de São Paulo fez questão de me formar no ensino médio, como técnica em informática e o mais importante, como cidadã.

Em 2019, eu recebi as aprovações em faculdades federais e estaduais brasileiras, foi aí que vi que não era o que queria e eu ia tentar aplicar para fora do país de novo se não fosse aceita nos Estados Unidos. Em fevereiro, chegou uma carta falando Congratulations (Parabéns) e chorei com a minha aprovação. Dois meses depois, eu tinha 7 aprovações no exterior, mas não tinha dinheiro para ir.  Então, sem nem os meus pais saberem, lancei uma campanha de arrecadação online e recebi muito pouco no primeiro dia. No segundo, fui parar em canais de TV e jornais, eu não entendo até hoje, mas bombou e consegui um bom dinheiro em poucos dias, mas ainda não era suficiente para todo o período do curso.

Uma semana depois, eu conheci a Sandra Castello, Diretora de Marketing e Pessoas da DMCard. Imagina o que é receber uma mensagem no Instagram falando que vão custear seus estudos? Incrivelmente, inacreditável, né?

Nos dias de hoje, eu tenho bolsa de mérito acadêmico na Nova Southeastern University e outra da DMCard, também sou a nova colunista desse blog e estou tão animada. Além disso, sou diretora de parcerias do ImpactaJovem Brasil, uma ONG de educação, a qual ajudamos pessoas a terem acesso à educação de qualidade através de podcasts, aulas, materiais, divulgação de oportunidades e mentorias. Também sou embaixadora do Global Peace Chain e fui para a Turquia no ano passado para falar da educação e saúde do nosso Brasil.

Em partes difíceis, a saudade e solidão no exterior é um sentimento constante, abdiquei muito para ser uma pessoa realizada. Sou “cria” de família nordestina e conheço todas as comidas diferentes. Eu também sinto saudade de ser caiçara e tudo ser uma desculpa para colocar o pé na areia. O tratamento de cuidar de todos como família é algo exclusivo brasileiro e faz muita falta esse calor humano. Contudo, eu sou  muito realizada em ter conquistado minha independência e respeito acadêmico.

Os momentos mais incríveis para mim são de jovens falando que  sou inspiração para eles. Nesse caso, eu sempre penso: será que devo falar que favela venceu agora ou tenho que continuar lutando para não existir favelados e meus amigos estarem no topo comigo? Eu sou toda carga social que vivi e, sem dúvidas, a futura neurocientista e médica que verão é reflexo de uma luta pela saúde e educação de qualidade no Brasil.

Eu sempre me subestimei muito academicamente, falava para mim que eu era esforçada e não inteligente. Atualmente, eu percebi que não importa se não sou inteligente, eu sou a pessoa mais persistente que eu conheço e isso basta para fazer tudo que eu quero. Eu sei que a desigualdade é algo que nós, brasileiros, temos e não podemos falar de meritocracia. Contudo, se você tem meios de fazer, persista que você vai longe. Quando conseguir, faça de tudo para facilitar o caminho para os outros que virão depois de você!

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